Sacerdote Flávio Wolff de Babá Ayra: da gestação aos 10 anos
Babá Ayra, Orixá Ministro da Família Xangô, é representado por Flávio Wolff de Babá Ayra. Flávio é filho carnal da finada Sacerdotisa Cleópatra de Iemanjá, que, por sua vez, era filha de santo do Sacerdote Mestre Silvino de Serras, do Axé Aymoré, também padrinho de batismo de Flávio. Cleópatra trabalhou até o oitavo mês de gestação, pois Flávio era uma criança grande e nasceu com 5 quilos, sendo o sétimo e último filho de sua mãe. A família mudou-se para a Cidade Leonor, na rua Taquaritiba. Flávio tem lembranças de infância que o remetem ao terreiro, para onde acompanhava sua mãe carnal, sempre vestida de branco. Aos 5 anos, recorda-se de uma conversa com seu finado pai, que se apresentou como um amigo de sua mãe. No dia seguinte, receberam a notícia do falecimento dele. Foi também aos 5 anos que Flávio começou a apresentar dificuldades nas pernas, até ficar completamente paralítico. Sua mãe trabalhava em dois empregos para sustentar a família, enquanto sua avó Eufrosina, evangélica da Igreja Batista, cuidava dele. Ela o colocava no chão para ouvir pregações na radiola, especialmente de Davi Miranda. Além disso, todas as quartas-feiras, Eufrosina carregava Flávio no colo até o terreiro da Zeladora Mãe Luiza, onde a cabocla Jussara e os erês realizavam trabalhos espirituais para ajudá-lo, como passar pipoca pelo seu corpo. Flávio foi internado em dois hospitais, o do Tatuapé e o da Lapa. No hospital do Tatuapé, começou a sentir novamente suas pernas. Pediu à mãe que colocasse uma cadeira no corredor e, com esforço, deu os primeiros passos. A partir daí, nunca mais parou de andar. Em uma das visitas periódicas ao hospital, Flávio surpreendeu o médico ao correr e segurar sua mão. O profissional declarou: "Esse é o Wolff, um milagre!" Isso porque ele havia dito à mãe de Flávio que o menino provavelmente nunca andaria. Flávio também tinha um problema nos testículos, e sua mãe o levou ao médico. Ela perguntou: — Filho, você quer operar? Ele respondeu: — Sim, mãe. Se vou precisar operar um dia, que seja agora. Na sala de cirurgia, antes da operação, Flávio pediu à mãe, que estava sentada em uma cadeira: — Mãe, levante-se! Você está sentada no colo da sua mestre, Maria do Balaio. Após a cirurgia, Flávio sofreu uma infecção generalizada e entrou em coma. Os médicos disseram que ele não sobreviveria. Em um momento de convulsão, o médico pediu que sua irmã, Luíza, chamasse sua mãe para se despedir dele. Luíza foi ao terreiro da Sacerdotisa Cleópatra de Iemanjá, que estava incorporada pelo Mestre Augusto. O iluminado disse: — Volte! O menino tem uma missão na Terra. Ainda não chegou sua hora. Flávio saiu do coma, um verdadeiro milagre, graças a Deus..
Sacerdote Flávio Wolff de Babá Ayra: uma trajetória espiritual
Com 13 anos, Flávio ingressou no terreiro de Umbanda da Mãe Maria Lélis de Obaluaiê, onde começou sua jornada espiritual. Lá, passou a trabalhar com o Caboclo Pena Branca e, posteriormente, com o Preto Velho Pai Joaquim da Costa. No início, como muitos médiuns, Flávio tinha dúvidas sobre estar incorporado ou não. Ele se recorda de uma conversa marcante com Dona Conceição, uma frequentadora do terreiro. Quando começou a dar passes com o Caboclo Pena Branca, Dona Conceição lhe pediu para benzer as dores das pernas. Surpreso, Flávio sugeriu que pedisse ao Caboclo Tibiriçá, mas ela insistiu: — Só o Pena Branca pode tirar minhas dores. Essa experiência o deixou emocionado, pois era apenas um pré-adolescente começando sua caminhada mediúnica. Em sonhos, o Caboclo Pena Branca já o instruía, embora Flávio, por sua pouca idade e falta de informação espiritual, não compreendesse totalmente os símbolos e ensinamentos recebidos. Os primeiros passos no Candomblé Com 15 anos, Flávio passou a trabalhar com o Exu Tranca Rua das Almas no terreiro de Umbanda da Tia Chica Baiana, em Guaianazes, onde também conheceu o Exu Pantera Negra. Aos 17 anos, voltou a morar na Cidade Leonor com uma família muito querida e fez sua primeira camarinha de Umbanda. Foram 7 dias de ronco e 21 dias de preceito, período em que não podia sair do quintal do terreiro. Com o passar dos anos, sua mediunidade se desenvolveu ainda mais. Entre os 21 e 25 anos, começou a ver e conversar com espíritos. Foi nessa época que aprendeu a jogar tarô cigano e a realizar trabalhos espirituais, como magias e amarrações, sob a orientação de entidades como Maria Padilha. Aos 25 anos, Flávio iniciou sua caminhada no Candomblé, participando de diversos burís com Ya Cíntia de Oxumarê, filha de Babá Zé Mauro de Monte Serrat. Ele permaneceu sob os ensinamentos de Ya Cíntia até sua mudança para Camaçari, na Bahia, onde realizou seu último burí com ela. Fundação do terreiro e a jornada sacerdotal Com 23 anos, Flávio abriu seu primeiro terreiro de Umbanda, localizado na rua Embiara, na Vila Santa Catarina, em São Paulo. Aos 25 anos, expandiu sua dedicação ao Candomblé, sendo raspado, cabulado e adoxado por Yia Amélia de Odun Karê, neta de Yia Célia de Becém. Flávio também vivenciou experiências intensas no plano espiritual. Foi levado ao Umbral em diversas ocasiões para auxiliar no resgate de espíritos em sofrimento. Essas vivências o fortaleceram como sacerdote e ampliaram sua compreensão sobre as dimensões espirituais. A missão continua Hoje, aos 57 anos, Flávio se dedica integralmente ao seu trabalho espiritual. Ele é grato aos mais velhos e a todas as entidades que o guiaram ao longo dessa jornada. Ao abrir uma página na internet, sente-se pronto para ajudar ainda mais pessoas, oferecendo orientações por meio do tarô cigano e de trabalhos espirituais personalizados. Flávio encerra com palavras de gratidão: — Agradeço à minha mãe carnal, que desde cedo me preparou para ser um grande sacerdote espiritual. Agradeço aos meus guias e protetores. Salve, amém e assim seja. Motumbá, Mucuiu, Kolofé!